A tragédia que atingiu o Rio Grande do Sul na última semana ainda se mantém atualmente, com necessidade de resgates, acolhimento e doações às vítimas das enchentes que assolam as cidades.

Enquanto isso, nas redes sociais, muitos boatos, fatos distorcidos e mentiras têm circulado, o que acaba por atrapalhar o entendimento dos brasileiros sobre a situação no estado gaúcho e formar a opinião dos internautas com base em desinformações. A Polícia Federal já investiga a disseminação desse tipo de conteúdo enganoso.

Para desmentir as principais Fake News espalhadas pela internet, o Detetive TudoCelular separou alguns dos casos e explica a você a seguir.

Logo nos primeiros dias de resgates, mensagens começaram a circular e indicavam que helicópteros de voluntários e até mesmo do Exército estavam proibidos de realizar resgates no Rio Grande do Sul. A justificativa dada na “denúncia” de redes sociais era de que não havia teto para voar naquele ambiente.

Além disso, outras publicações insinuavam que o Exército estava impedindo voluntários em resgates com barcos, especificamente na cidade de Canoas, ou ainda proibindo a entrada de embarcações e exigindo documentação. Veja o que dizia uma das correntes:

Boato:

“Além de estar fazendo pouco, as forças armadas agora estão dificultando o acesso de voluntários civis aos locais de alagamentos. Estão fazendo exigências de documentação e condições dos barcos, e o povo boiando nas águas sem ter um bote se quer para se salvar.”

Especificamente sobre os helicópteros, apesar de ter tido uma limitação durante os momentos mais críticos de chuva intensa, o cenário foi normalizado ainda no início dos esforços. O que teve uma restrição mais duradoura foram os voos comerciais até a região.

A respeito dos barcos, não só não houve qualquer prova de que existisse impedimentos, como as próprias autoridades públicas incentivaram a ajuda dos voluntários com as embarcações na hora dos resgates.

“Se as pessoas tiverem barcos, nós estamos necessitando muito desses meios. Em grande parte dos locais, com a elevação da água, somente conseguimos ingressar de barco nos bairros. Então, apelamos para que as pessoas realmente cedam barcos para que a gente possa continuar trabalhando o dia. Solidariedade é a palavra certa. E, nós, felizmente, diante desta magnitude do desastre em Canoas, de outro lado, percebemos que, felizmente, a nossa raça humana continua sendo solidária.”

Jairo Jorge

Prefeito de Canoas (RS)

Outros boatos em circulação pelas redes sociais diziam que havia 2 mil corpos boiando nas enchentes, na cidade de Canoas. Inclusive, um deles indicava sobre um bebê ter sido encontrado boiando após ser confundido com uma boneca.

Apesar de a informação ter tomado grandes repercussões, o prefeito do município, Jairo Jorge, chegou a publicar um vídeo para negar que esse cenário tenha ocorrido. Você pode conferir no vídeo abaixo:

Naquela ocasião, eram dois óbitos registrados na cidade: o de uma pessoa que se jogou do prédio do hospital; e um indivíduo que teve morte cerebral.

No momento de publicação desta coluna, o número de falecimentos confirmados no estado inteiro do Rio Grande do Sul, com as enchentes, chega a 107, das quais quatro aconteceram em Canoas.

Por ter ocorrido às vésperas do show da Madonna, as enchentes do Rio Grande do Sul foram sofreram falsas equivalências com o espetáculo que aconteceu na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, no último sábado (4).

Uma das principais Fake News divulgadas no período diz que o Governo Federal teria destinado R$ 60 milhões ao show, no lugar de mandar ao Rio Grande do Sul. Isso é mentira, uma vez que essa quantia para a apresentação da artista foi dividida entre prefeitura e governo do estado do Rio de Janeiro, além dos patrocinadores Itaú e Heineken – sem qualquer participação federal.

Outras postagens falsificaram vídeos de Will Smith e Beyoncé e diziam que ambos haviam criticado Madonna, por fazer show no Brasil enquanto os temporais castigavam o estado gaúcho. Contudo, na verdade, as traduções em português foram forjadas por meio de Inteligência Artificial.

No caso específico de Will Smith, o vídeo original foi publicado em 2018. O ator e cantor fazia um relato na gravação sobre felicidade, em referência às informações sobre a separação da esposa Jada Pinkett Smith.

Já em relação à Beyoncé, a filmagem original foi feita no dia 30 de maio de 2020. No material, a cantora fazia uma homenagem a George Floyd, homem negro morto por sufocamento pelos policiais nos Estados Unidos.

Para completar o tema, o colunista Erlan Bastos, do site Em Off, chegou a divulgar que Madonna teria doado R$ 10 milhões ao Rio Grande do Sul. Ao ser questionado sobre a informação, o governo estadual do Rio Grande do Sul negou o recebimento de qualquer quantia vinda da cantora.

Nesta quinta-feira (9), o jornalista divulgou um vídeo para se retratar do que tinha divulgado anteriormente. Ele retificou que, na verdade, quem teria doado foi o banco Itaú, patrocinador do evento que ocorreu no Rio de Janeiro. O banco confirmou, em nota à imprensa, a doação.

"O Itaú está em contato constante com governos e autoridades locais para direcionar soluções e recursos adequados para este momento emergencial. O Itaú está monitorando permanentemente a situação da região Sul do Brasil, e novos aportes financeiros e medidas emergenciais poderão ser implementadas de acordo com a necessidade."

Itaú

Uma postagem no X (Twitter) dizia que, em meio à tragédia no Rio Grande do Sul e com parte da infraestrutura comprometida, apenas a internet da Starlink – serviço via satélites da empresa de Elon Musk – estava em funcionamento em território gaúcho.

O indivíduo, além de não apresentar provas sobre a afirmação – apenas uma imagem genérica de uma pessoa segurando uma caixa escrito “Starlink” –, ainda aproveitou para marcar Musk como forma de agradecimento.

Entretanto, apesar de a estrutura de rede elétrica e telecomunicações ter realmente sido muito afetada ao longo da tragédia, as principais operadoras do Brasil – Claro, TIM e Vivo – liberaram acesso à internet no estado.

Como chegamos a noticiar aqui no TudoCelular, as provedoras disponibilizaram uma “rede aberta”, com a dispensa dos protocolos de fechamento de sinal, para que qualquer cliente de uma operadora pudesse acessar a rede das demais, ao ativar o “Roaming”, para permitir maior comunicação nas localidades afetadas.

Com fronteira com o Rio Grande do Sul, o Uruguai ofereceu ajuda aos gaúchos por meio do empréstimo de um helicóptero com equipe completa de resgate, para auxiliar no salvamento das pessoas em dificuldades.

No entanto, mensagens circularam nas redes sociais com a indicação de que o governo brasileiro teria recusado a oferta de ajuda uruguaia para as operações de socorro das vítimas. Isso também foi uma mentira divulgada.

O helicóptero da Força Aérea do Uruguai não somente foi aceito como está em operação no estado gaúcho. A Secretaria de Comunicação Social chegou a divulgar uma nota, juntamente com uma foto do veículo aéreo emprestado (acima), para desmentir o boato e reforçar o agradecimento ao Uruguai.

“Um helicóptero emprestado pelo país vizinho e amigo está em operação no estado, aparelho de grande valia para o auxílio dos socorristas. O Brasil é grato ao Uruguai pelo pronto-auxílio.”

Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República

A Secom ainda explicou que houve a sugestão de um modelo específico de avião. Neste caso, a avaliação técnica foi a de que o aparelho não seria adequado para o tipo de operação exigida e a infraestrutura disponível no local.

Também tem sido circulado nas redes sociais um vídeo que insinua que a Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul estaria barrando a entrada de doações, com retenção para cobrança de impostos.

O secretário-chefe da Casa Civil do governo do Rio Grande do Sul, Artur Lemos, precisou fazer um vídeo para desmentir que os donativos têm sofrido qualquer restrição. Veja no vídeo a seguir:

O próprio subcomandante geral da Brigada Militar gaúcha, Douglas Soares, também fez um vídeo para negar os boatos e reforçar o desserviço das Fake News neste momento de crise, como é possível conferir abaixo:

Chegamos em um dos temas mais repercutidos entre os boatos nas redes sociais: o de caminhões com doações barrados nas estradas. A Fake News foi reforçada após uma reportagem do SBT, no programa Tá Na Hora, na terça-feira (7), que mostrava um caminhão com donativos parado.

O veículo estava em um comboio com outros três caminhões e era liderado pela Defesa Civil de Florianópolis (SC), quando foi parado no posto de pesagem da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) de Araranguá (SC) e teria sido autuado por excesso de peso.

No entanto, nas redes sociais, foram compartilhadas Fake News de que veículos com cargas muito pesadas estariam sendo parados e barrados de seguir viagem. Como se isso seria uma prática constante.

Diferente do que os boatos de internet indicam, este foi um caso pontual. A ANTT confirmou a ocorrência de autuações no posto do município catarinense por excesso de peso. No entanto, ressaltou serem casos isolados e que os veículos não foram impedidos de seguir viagem. Além disso, a agência informou que as multas serão anuladas.

A própria Bread King, dona do caminhão em questão, confirmou que o seu veículo seguiu viagem e que os donativos chegaram ao destino correto, sem qualquer cobrança de multa pela parada.

Para completar, a ANTT ainda mudou suas regras de fiscalização para deixar clara a flexibilização das medidas, em decorrência do estado de calamidade no Rio Grande do Sul, por meio do Decreto Legislativo nº 236/2024.

Uma recomendação neste momento é que todas as mensagens cujo conteúdo não tiver qualquer prova e for alarmante ou desmentido por posicionamentos oficiais não sejam compartilhadas a outras pessoas nas redes.

Muitas vezes, as pessoas recebem alguma publicação enganosa de contatos próximos, familiares, amigos ou outros conhecidos e acham que, por vir deles, a informação procede. Porém, o indivíduo que enviou a você também recebeu de um terceiro, o qual julga ser confiável, e assim por diante. Essa corrente, sem a devida apuração, faz com que os boatos mentirosos cheguem a uma massa maior e comprometam a compreensão de cada um.

Vale destacar que todas as Fake News, além de desinformarem a população, ainda desestimulam doações aos gaúchos, uma vez que muitos podem achar – erroneamente – que suas contribuições não conseguirão chegar até o destino. A sua disseminação também pode se enquadrar no Art. 287-A do Código Penal.

Art. 287-A – Divulgar informação ou notícia que sabe ser falsa e que possa modificar ou desvirtuar a verdade com relação à saúde, segurança pública, economia ou processo eleitoral ou que afetem interesse público relevante. Pena – detenção, de um a três anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave.

Código Penal

Segundo a Defesa Civil, em comunicado nesta quinta-feira (9), quase 2 mil toneladas de donativos chegaram ao Rio Grande do Sul por entes federais – Força Nacional e Correios – ao longo deste período de tragédia. Este foi o maior volume de doações da história do Brasil e tem sido fundamental para proteger vidas em solo gaúcho.

Você chegou a encontrar outra Fake News sobre a tragédia no Rio Grande do Sul? Relate para a gente no espaço abaixo.