
Android 11 Jan
Já pensou em comprar um iPhone 6 por apenas R$ 77? E se um LG G2 novinho em folha custasse só R$ 34? Levar para casa um Audi A1 pagando só R$ 338 parece um bom negócio para você? Pois bem. Saiba que todas essas ofertas fantasiosas saíram do mesmo site: o MadBid, que já é bastante popular no exterior e começou a fazer sucesso no Brasil recentemente. A página, que teoricamente é uma plataforma de leilões, promete oferecer produtos novos com descontos de até 89%.
Nascida no Reino Unido, a empresa afirma que os itens leiloados são oriundos de "excessos de armazéns", embora seja difícil acreditar que um carro 0 km fique encalhado em um estoque, não é mesmo? De qualquer forma, na teoria, tudo o que você precisa fazer é se cadastrar no site, adquirir pacotes de créditos e utilizá-los para dar lances nos produtos desejados. Prontinho, aquele artigo caro que você sempre sonhou finalmente é seu! Mas será que esse sistema funciona mesmo?
Nesta edição do Detetive TudoCelular, resolvemos investigar o MadBid a pedido do leitor gesiellhollanda, que nos questionou sobre a idoneidade do serviço. E lembre-se: se você também possui alguma sugestão para a nossa coluna, não seja tímido e nos conte através do campo de comentários! Acreditamos em uma rede de informações colaborativa e estamos sempre atentos aos feedbacks de nossos leitores. Vamos lá?
Como dissemos anteriormente, o MadBid é, na teoria, um site de leilões que oferece produtos "encalhados" com descontos de até 89%, incluindo computadores, tablets, smartphones, consoles de mesa, eletrônicos diversos e até mesmo veículos. A empresa foi fundada em 2008 no Reino Unido, e, desde então, passou a expandir sua atuação para outros países. É difícil precisar quando o serviço chegou ao Brasil, mas podemos dizer que ele começou a fazer sucesso em 2016 e atingiu seu ápice no ano passado.
Mas será que a plataforma é mesmo confiável?
Ao entrar na página principal da versão brasileira do MadBid (www.br.madbid.com), a primeira coisa que nos chama atenção são os supostos preços pelos quais alguns itens foram vendidos no serviço: um iMac por R$ 465, um MacBook Pro por R$ 221, um iPad Air por R$ 112... E assim por diante. Contudo, esses valores são imaginários. Ao acessar a versão inglesa do site, vemos os mesmos valores indicados em libras; ou seja, apenas trocaram o símbolo da moeda sem fazer a conversão real.
Confira um comparativo e lembre-se que, neste caso, o iMac, que teoricamente foi vendido a 465 libras, sairia então por uns R$ 2 mil. Um valor muito superior ao indicado na variante tupiniquim.
Abaixo, um campo exibe supostos "exemplos de leilões" ao vivo, que também são falsos; não importa quantas vezes você entre no site, os mesmos produtos estarão lá, com a contagem sendo reiniciada eternamente. Indo além, o MadBid também mostra supostas citações de grandes veículos de imprensa (como o The Sunday Times e o Sunday Mirror), mas as reportagens nem sequer existem.
A única menção verdadeira é o do The Independent, mas o jornal em questão jamais produziu uma matéria focada no MadBid; eles apenas o citam em um texto sobre empresas estrangeiras que decidem usar a cidade de Londres como endereço comercial para usufruir das regras fiscais britânicas. Você pode conferir o conteúdo na íntegra através deste endereço.
Não exatamente. Podemos dizer que ele é um serviço real, mas que adota um sistema antiético e pouco justo para o consumidor final. O que acontece é que, na verdade, o MadBid não é um leilão, se assemelhando mais a uma espécie de jogo de azar. Ao se cadastrar na plataforma, a primeira coisa que você precisa fazer é adicionar créditos ao seu perfil; é possível escolher dentre pacotes que custam de R$ 64,99 a R$ 1.389,99. O pagamento pode ser feito por boleto ou cartão de crédito.
Só depois disso você tem acesso aos leilões em si. Funciona assim: diferente de um leilão normal, no qual você pode dar o lance que quiser, no MadBid o internauta só pode aumentar o valor atual em um centavo (sim, R$ 0,01). Cada "um centavo a mais" lhe custa uma quantia determinada de créditos (nos exemplos abaixo, 10 ou 15 créditos). Ao clicar em "Licitar", os créditos são subtraídos da sua conta e o contador reinicia, no aguardo do próximo participante a aumentar um centavo.
Sabe o que é pior? Os créditos gastos não voltam para a sua conta mesmo se você perder o leilão!
Isso significa que a única forma de ganhar uma licitação no MadBid é ter sorte o suficiente para dar um lance e ninguém mais estar online para competir com você, uma situação difícil de acontecer. E isso também significa que, na prática, embora um pacote de 670 créditos custe R$ 249,99, seu valor real de utilidade dentro dos leilões é de apenas, no máximo, R$ 6,70 (caso você participe de um leilão onde cada licitação vale um crédito, ou seja, cada crédito equivale a um centavo). Sacanagem, não é mesmo?
É importante observar que, embora a MadBid atue no Brasil, a companhia não está oficialmente registrada em nosso país, ou seja, não possui um Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ). Dessa forma, o site não é obrigado a arcar com as taxas tributárias brasileiras e também não é obrigada a responder inquéritos judiciais de acordo com as nossas leis; para todos os efeitos, o serviço está sujeito apenas a legislação britânica.
Aliás, para receber os pagamentos em real, a empresa utiliza dois gateways distintos: o Mercado Pago (para cartões de crédito) e o AstroPay (para boleto). Este último nada mais é do que um cartão pré-pago que qualquer pessoa pode adquirir. Os boletos que os clientes geram para comprar créditos são transformados em carga para o cartão de seja lá quem for o responsável pela MadBid em nosso país; uma forma pouco profissional de arrecadar lucros.
No site Reclame Aqui, a versão brasileira da MadBid já contabiliza 372 reclamações; e, embora a marca tenha respondido a 97,8% delas (demorando em média 54 dias para dar um retorno), apenas 9,2% dos reclamantes voltariam a usar a plataforma. Os internautas reclamam do sistema injusto de créditos e da falta de transparência do site, que não explica exatamente como o sistema de leilões funciona.
Mas não pense que o MadBid recebe críticas apenas no Brasil. Em 2015, uma investigação do The Guardian constatou que, graças ao injusto sistema de créditos do serviço, os consumidores podem acabar pagando o dobro do preço convencional de um produto tentando arrematá-lo com o tal desconto. O jornal também descobriu que os lucros da empresa são astronômicos e o leilão de um simples MacBook pode render lhe até 14 mil libras, ou R$ 61 mil.
Além disso, o psicólogo especialista em vícios em jogos de azar Mark D. Griffiths, que também é professor da Universidade de Nottingham Trenty, já afirmou várias vezes que sites como o MadBid deveriam ser fiscalizados e autuados com uma legislação própria, visto que seu funcionamento é semelhante ao de jogos de apostas.
Conclusão: embora o MadBid não possa ser considerado exatamente um site falso (pois, de fato, existem produtos sendo comercializados), o serviço engana o internauta ao bolar um sistema extremamente injusto e que, no fim das contas, te faz gastar mais dinheiro do que o necessário para adquirir um item. Não se trata de um leilão convencional, mas sim de uma espécie de jogo de apostas no qual você só ganhará caso tenha muita sorte (e, mesmo assim, terá que pagar adiantado para poder participar). Mantenha distância!
Esta matéria faz parte da coluna Detetive TudoCelular, que visa desvendar notícias falsas que se espalham na internet e investigar fraudes que assolam os brasileiros na web. Você confere novos conteúdos toda terça e quinta-feira, aqui no TudoCelular. Continue acompanhando!
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